O desenvolvimento desportivo<BR> como imperativo ético
A situação actual coloca problemas de um novo tipo ao desporto. De facto, como falar de desenvolvimento desportivo quando se sabe que as desigualdades sociais se acentuaram fortemente na última década, a situação de precariedade e de pobreza integra um número crescente de indivíduos, a insegurança no trabalho alastra por todo o sistema produtivo acompanhando a subida do número de desempregados, e as preocupações com a segurança no momento da reforma crescem em todos aqueles que olham o futuro?
Simultaneamente, sabe-se que os orçamentos de carácter social, referidos à saúde, à educação e à segurança social, sofrem cortes substanciais. O apelo à solidariedade social é lançado de todos os lados, ainda que, com demasiada frequência, revestindo o carácter de acto humanitário de caridade, justificativo do mecenato dos mais ricos, como forma de encontrar remédio para uma situação cada vez mais grave.
O desporto é um elemento moderno e importante na actividade do indivíduo nas sociedades actuais. Essa importância tem crescido ao longo do século, em termos económicos, sociais, políticos e culturais. Ao integrar a vida social no seu todo o desporto passou a desenvolver-se a partir das condições da vida e de trabalho dos cidadãos.
Todos sabemos que o nosso País se caracteriza, neste sector, por ocupar o último lugar nos índices do desenvolvimento, entre os países europeus. Seja dito em abono da verdade que a posição que ocupa a nível mundial também não é invejável (nos últimos Jogos Olímpicos a classificação não oficial coloca-nos em 67.º lugar) Contrariamente aquilo que tem sido difundido, a evolução do nosso desporto nos últimos 10 anos quase não se fez sentir. De facto, nas últimas estatísticas oficiais publicadas (finalmente! – ao fim de muitos anos!) verifica-se que pelo menos houve estagnação e, em muitas modalidades desportivas existe regressão. Além disso convém reparar que a fiabilidade destas estatísticas é nula na medida em que não toma em consideração as duplas e até triplas inscrições de um número significativo de atletas.
O número de praticantes, em autêntica «explosão» logo após 1974, foi sofrendo um travagem progressiva a partir de meados da década e oitenta. Contudo, facto que deve ser assinalado e é merecedor de análise cuidada devido às contradições que apresenta, o número de clubes foi sempre crescendo, ainda que a ritmos variados consoante as épocas, sendo no presente, e de acordo com aqueles dados, de cerca de 9500 (o que desdiz frontalmente a antiga previsão que apontava para o seu progressivo desaparecimento).
Acesso condicionado
Por outro lado, a estrutura do desporto não sofreu qualquer alteração significativa durante todo este tempo, e a publicação da «Lei das Bases» do Desporto não teve até agora qualquer resultado visível em termos de uma mudança que os próprios tempos há muito impõem. A difusão dos novos desportos limita-se, cada vez mais, às classes médias altas, e o perfil dominante do praticante também não sofreu a alteração necessária.
Como se sabe, os grupos sociais mais desfavorecidos estão ausentes, em larga medida, das actividades desportivas. Os poucos estudos disponíveis entre nós demonstraram que quanto mais se desce na escala social, mais difícil é o acesso ao desporto. Situação que não causa qualquer estranheza quando se conhece o aumento constante do custo da prática desportiva, a crise permanente em que vive o associativismo de raiz popular e as dificuldades vividas na Escola (local, por excelência da democratização das actividades físicas educativas) para estruturar uma prática concreta do desporto e da educação física.
No entanto, investigações realizadas em vários países, demonstraram que o desporto, para além de desempenhar as suas funções habituais (desde que correctamente orientado), responde a aspirações específicas do grupo dos menos protegidos, e pode contribuir para lutar contra a exclusão social. Pensar que não vale a pena preocupar-nos com a sua difusão nas camadas mais desfavorecidas, é não só uma injustiça grave, como um erro que custa muito caro à comunidade no seu todo. Privá-las da prática do desporto com o argumento de que não estão bem alimentadas, não possuem meios, etc., é empobrecê-las ainda mais, e, pior ainda, agravar a sua situação de saúde sobrecarregando o serviço público. A pobreza e, por maioria de razão o recente conceito de «grande pobreza», representa um encadeamento de violações dos direitos do ser humano. Violações que além de liquidarem as liberdades civis e políticas, provocam um intenso afastamento de muitos indivíduos do consumo e utilização de um enorme leque de bens e serviços criados pela sociedade.
Simultaneamente, sabe-se que os orçamentos de carácter social, referidos à saúde, à educação e à segurança social, sofrem cortes substanciais. O apelo à solidariedade social é lançado de todos os lados, ainda que, com demasiada frequência, revestindo o carácter de acto humanitário de caridade, justificativo do mecenato dos mais ricos, como forma de encontrar remédio para uma situação cada vez mais grave.
O desporto é um elemento moderno e importante na actividade do indivíduo nas sociedades actuais. Essa importância tem crescido ao longo do século, em termos económicos, sociais, políticos e culturais. Ao integrar a vida social no seu todo o desporto passou a desenvolver-se a partir das condições da vida e de trabalho dos cidadãos.
Todos sabemos que o nosso País se caracteriza, neste sector, por ocupar o último lugar nos índices do desenvolvimento, entre os países europeus. Seja dito em abono da verdade que a posição que ocupa a nível mundial também não é invejável (nos últimos Jogos Olímpicos a classificação não oficial coloca-nos em 67.º lugar) Contrariamente aquilo que tem sido difundido, a evolução do nosso desporto nos últimos 10 anos quase não se fez sentir. De facto, nas últimas estatísticas oficiais publicadas (finalmente! – ao fim de muitos anos!) verifica-se que pelo menos houve estagnação e, em muitas modalidades desportivas existe regressão. Além disso convém reparar que a fiabilidade destas estatísticas é nula na medida em que não toma em consideração as duplas e até triplas inscrições de um número significativo de atletas.
O número de praticantes, em autêntica «explosão» logo após 1974, foi sofrendo um travagem progressiva a partir de meados da década e oitenta. Contudo, facto que deve ser assinalado e é merecedor de análise cuidada devido às contradições que apresenta, o número de clubes foi sempre crescendo, ainda que a ritmos variados consoante as épocas, sendo no presente, e de acordo com aqueles dados, de cerca de 9500 (o que desdiz frontalmente a antiga previsão que apontava para o seu progressivo desaparecimento).
Acesso condicionado
Por outro lado, a estrutura do desporto não sofreu qualquer alteração significativa durante todo este tempo, e a publicação da «Lei das Bases» do Desporto não teve até agora qualquer resultado visível em termos de uma mudança que os próprios tempos há muito impõem. A difusão dos novos desportos limita-se, cada vez mais, às classes médias altas, e o perfil dominante do praticante também não sofreu a alteração necessária.
Como se sabe, os grupos sociais mais desfavorecidos estão ausentes, em larga medida, das actividades desportivas. Os poucos estudos disponíveis entre nós demonstraram que quanto mais se desce na escala social, mais difícil é o acesso ao desporto. Situação que não causa qualquer estranheza quando se conhece o aumento constante do custo da prática desportiva, a crise permanente em que vive o associativismo de raiz popular e as dificuldades vividas na Escola (local, por excelência da democratização das actividades físicas educativas) para estruturar uma prática concreta do desporto e da educação física.
No entanto, investigações realizadas em vários países, demonstraram que o desporto, para além de desempenhar as suas funções habituais (desde que correctamente orientado), responde a aspirações específicas do grupo dos menos protegidos, e pode contribuir para lutar contra a exclusão social. Pensar que não vale a pena preocupar-nos com a sua difusão nas camadas mais desfavorecidas, é não só uma injustiça grave, como um erro que custa muito caro à comunidade no seu todo. Privá-las da prática do desporto com o argumento de que não estão bem alimentadas, não possuem meios, etc., é empobrecê-las ainda mais, e, pior ainda, agravar a sua situação de saúde sobrecarregando o serviço público. A pobreza e, por maioria de razão o recente conceito de «grande pobreza», representa um encadeamento de violações dos direitos do ser humano. Violações que além de liquidarem as liberdades civis e políticas, provocam um intenso afastamento de muitos indivíduos do consumo e utilização de um enorme leque de bens e serviços criados pela sociedade.